Novembro 2024 vol. 12 num. 4 - 8º SPDesign - Seminário de Pesquisa do PPG Design FAU USP
Artigo - Open Access.
Aspectos decoloniais no design orientado ao futuro: estudo de reconhecimento
Decolonial aspects in future-oriented design: a scoping study
COMPARETTI, Natalie Davantel ; SOUSA, Cyntia Santos Malaguti de ;
Artigo:
Esta dissertação, em fase inicial de investigação, se desenvolve no contexto do design que se orienta ao futuro e que tem interagido com correntes do pensamento decolonial na tentativa de criar visões de futuros alternativas no contexto brasileiro. Em particular, como parâmetro para análise, interessam os aspectos decoloniais evidentes em recentes narrativas e visões de futuros presentes nos movimentos indígena e negro brasileiros. Devido à complexidade e amplitude do tema, a pesquisa se beneficiou de um estudo de reconhecimento, por meio de mapeamento sistemático (Petersen et al., 2008). O mapeamento buscou reconhecer o estado da arte das pesquisas que relacionam design, futuros e pensamento decolonial, considerando dissertações, teses e artigos. Foram identificados 822 estudos, dos quais 16 foram selecionados para análise, divididos em dois grupos de oito. O grupo A reúne os estudos que explicitamente utilizam o termo decolonial, sendo subdivididos em dois grupos por similaridade de práticas. Considerações preliminares foram descritas em um artigo para o Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design - P&D deste ano (Comparetti e Sousa, no prelo). Dentre os resultados apresentados, destaca-se, de modo geral, como os autores articulam design, futuros e conceitos relacionados ao pensamento decolonial, com ênfase na descrição de práticas, abordagens e utilização de referenciais teóricos (ibidem). Ao examinar mais detalhadamente como os conceitos de decolonização são descritos nos estudos, evidencia-se que, apesar da variedade, com prevalência do conceito de autonomia, as diretrizes revelam a predominância de dois aspectos comuns, que não se excluem: de um lado, a desconstrução de visões de mundo colonizadas; de outro, a valorização dos conhecimentos existentes no território. Dos dez conceitos identificados, três são provenientes dos movimentos indígena (Krenak, 2022) e negro (Anderson e Jones, 2016; Nascimento, 2019), enquanto os demais estão relacionados de forma indireta a estes dois movimentos. Embora três dos estudos utilizem conceitos imbricados ao território, suas pesquisas são aplicadas fora desse contexto. Já quatro dos estudos que se baseiam no conceito de autonomia —que não remete diretamente ao território— aplicam suas pesquisas, por meio de pesquisa-ação ou observação de práticas, em territórios periféricos e comunidades tradicionais.Este levantamento evidencia principalmente uma lacuna na sistematização de práticas, abordagens e conceitos empregados. Além disso, levanta questões como: O design pode realmente atuar de forma decolonial? Como ocorre a transição do design de uma mentalidade colonial para essa tentativa de ruptura, e como isso influencia as visões de futuros em projetos desta natureza? Quais aspectos o design reforça e questiona neste contexto? Está alinhado com as demandas dos movimentos indígena e negro sobre futuros alternativos? Para responder a estas questões, os próximos passos da pesquisa incluem: (1) elaborar um quadro descritivo de aspectos decoloniais com base na triangulação do referencial teórico, nas narrativas de futuros alternativos dos movimentos indígena e negro brasileiros e em entrevistas com especialistas; (2) revisar a literatura, identificar grupos de pesquisa e casos exemplares de design que evidenciem a interação com os aspectos decoloniais identificados; e (3) levantar dados adicionais por meio de entrevistas e análise de projetos. O objetivo final é fornecer um panorama geral do tema, sistematizando conceitos e parâmetros para identificar possibilidades, desafios e limites de atuação.
Artigo:
This dissertation, in its preliminary stages of investigation, is developed within the context of future-oriented design and its interaction with decolonial thought in an effort to create alternative future visions within the Brazilian context. Specifically, the analysis focuses on decolonial aspects evident in recent narratives and future visions present in Brazilian indigenous and black movements. Given the complexity and scope of the topic, the research has benefited from a scoping study through systematic mapping (Petersen et al., 2008). The mapping aimed to recognize the state of the art in research relating design, futures, and decolonial thought, considering dissertations, theses, and articles. A total of 822 studies were identified, of which 16 were selected for analysis, divided into two groups of eight. Group A includes studies that explicitly use the term decolonial, subdivided into two subgroups based on practices similarity. Preliminary considerations were described in a paper for this year's Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design - P&D (Comparetti & Sousa, forthcoming). Among the results presented, a general theme emerges regarding how authors articulate design, futures, and decolonial thought concepts, with an emphasis on describing practices, approaches, and the use of theoretical frameworks (ibid.). A more detailed examination of how decolonization concepts are described in the studies reveals that, despite the variety, with the concept of autonomy being prevalent, the guidelines indicate the predominance of two common aspects that are not mutually exclusive: on one hand, the deconstruction of colonized worldviews; on the other, the valorization of existing knowledge within the territory. Of the ten identified concepts, three originate from indigenous (Krenak, 2022) and black movements (Anderson & Jones, 2016; Nascimento, 2019), while the others are indirectly related to these movements. Although three of the studies use concepts tied to the territory, their research is applied outside this context. Conversely, four of the studies based on the concept of autonomy —which does not directly relate to the territory— apply their research through action research or practice observation in peripheral territories and traditional communities. This survey primarily highlights a gap in the systematization of practices, approaches, and concepts employed. It also raises questions such as: Can design truly operate in a decolonial manner? How does the transition from a colonial mindset to an attempt at rupture occur within design, and how does this influence future visions in such projects? What aspects does design reinforce and question in this context? Is it aligned with the demands of indigenous and black movements regarding alternative futures? To address these questions, the next steps of the research include: (1) developing a descriptive framework of decolonial aspects based on the triangulation of theoretical references, the alternative future narratives from Brazilian indigenous and black movements, and interviews with experts; (2) reviewing the literature to identify research groups and exemplary design cases that demonstrate interaction with the identified decolonial aspects; and (3) collecting additional data through interviews and project analysis. The ultimate goal is to provide a comprehensive overview of the topic by systematizing concepts and parameters to identify possibilities, challenges, and limitations of practice.
Palavras-chave: Design orientado ao futuro, Decolonialidade, Aspectos decoloniais, Design brasileiro, Mapeamento sistemático,
Palavras-chave: Future-oriented design, Decoloniality, Decolonial aspects, Brazilian design, Systematic mapping,
DOI: 10.5151/8spdesign-012
Referências bibliográficas
- [1] "ANDERSON, Reynaldo; JONES, Charles. E. (org). Afrofuturism 2.0: The rise of Astro-blackness. London: Lexington Books, 2016.
- [2] Comparetti, Natalie Davantel; Sousa, Cyntia Santos Malaguti de. Tecendo diálogos: imbricações entre o design, futuros e o pensamento decolonial. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN - P&D, 15., [2024?], Manaus. Anais [...]. Manaus: Universidade Federal do Amazonas. No prelo.
- [3] KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
- [4] NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo: documentos de uma militância Pan-Africanista. 3 ed. São Paulo: Perspectiva. Rio de Janeiro: IpeAfro, 2019.
- [5] PETERSEN, Kai; FELDT, Robert; MUJTABA, Shahid; MATTSSON, Michael. Systematic mapping studies in software engineering. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON EVALUATION AND ASSESSMENT IN SOFTWARE ENGINEERING - EASE, 12., 2008, Bari. Proceedings [...]. Bari: University of Bari, 2008. p. 68-77. "
Como citar:
COMPARETTI, Natalie Davantel; SOUSA, Cyntia Santos Malaguti de; "Aspectos decoloniais no design orientado ao futuro: estudo de reconhecimento ", p. 43-47 . In: Anais do 8º SPDesign - Seminário de Pesquisa do PPG Design FAU USP.
São Paulo: Blucher,
2024.
ISSN 2318-6968,
DOI 10.5151/8spdesign-012
últimos 30 dias | último ano | desde a publicação
downloads
visualizações
indexações