Novembro 2017 vol. 3 num. 1 - X Encontro Nacional sobre Migração

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Caracterização espacial da migração de retorno ao Nordeste: uma análise dos fluxos migratórios intermunicipais nos quinquênios 1995-2000 e 2005-2010

Campos, Jarvis ; Reis, Cristiano S. dos ; Sathler, Douglas ;

Artigo Completo:

Importantes transformações na história migratória brasileira aconteceram na década de 1980, especialmente no que tange às tendências de redistribuição espacial da população. Concomitante à redução drástica de certos fluxos migratórios para o Sudeste ou para as áreas de fronteira, pôde-se identificar a intensificação dos movimentos de retorno, processo este que configura a nova realidade da dinâmica de redistribuição populacional do país. No caso do Nordeste, os nove estados que o compõem vêm apresentando uma recuperação dos saldos migratórios negativos observados em décadas anteriores, seja em função da redução da emigração, seja devido ao crescimento da imigração, em parte caracterizada pela migração de retorno (CUNHA E BAENINGER, 2001). O migrante, ao sair do local de origem, poderá escolher entre duas alternativas: ou fixa definitivamente (o que representaria um processo de inserção no destino), ou regressa à sociedade de origem (num contexto de reinserção). Fazito (2005) afirma que o ciclo vital da migração se fecha no retorno à terra natal, pois o retorno constitui um princípio simbólico que inscreve a circularidade nas migrações. Desta forma, os sistemas empíricos de migração comportam como etapa essencial o retorno, que a um só tempo fundamenta simbolicamente todo e qualquer deslocamento, além de desempenhar uma função estrutural na topologia desses sistemas, dado que dinamiza o processo migratório. Além disso, é importante considerar fatores relacionados com as escolhas individuais envolvidas no processo do retorno. Geralmente, o motivo principal da saída do indivíduo é de ordem econômica, ou seja, o indivíduo emigra em busca de melhores oportunidades de emprego na expectativa de incrementar sua renda. Entretanto, o retorno muitas vezes se verifica por algum equívoco de avaliação quanto às oportunidades no local de destino, o que resulta em frustração no que tange às suas expectativas quanto às melhorias almejadas. Porém, a migração pode fazer parte ainda de um planejamento em longo prazo de mudança de residência. Assim, primeiro o migrante se posiciona como um trabalhador que acrescentará bens e/ou benefícios no tempo de sua estada fora, para depois, mais idoso, retornar para seu local de origem e, dessa maneira, desfrutar a velhice juntamente com seus familiares (COSTA & RIGOTTI, 2008). No processo migratório, ter contato com uma cultura diferente, uma diversidade de pessoas, hábitos e ambientes distintos, é sempre positivo para o desenvolvimento pessoal. Não obstante, as habilidades adquiridas muitas vezes podem vir a se tornar em limitações à reinserção dos retornados nas suas comunidades de origem, e servem também para potencializar conflitos entre estes e os não-migrantes (inclusive dentro da família, como no caso das relações de gênero entre casais) (FAZITO, 2005). Dessa forma, nem as habilidades adquiridas nem o dinheiro poupado parecem cumprir papel definitivo na reinserção dos retornados nas comunidades de origem (FAZITO, 2005). Portanto, pode-se afirmar que o retorno não ocorre pura e simplesmente por um “sucesso” ou um “fracasso” econômico no mercado de trabalho de destino, mas também se relaciona como próprio ciclo de vida dos migrantes. Na perspectiva das técnicas de mensuração, pesquisas feitas no Brasil (RIBEIRO, 1997; GARCIA E MIRANDA-RIBEIRO, 2005) mostram que as migrações de retorno têm grande impacto sobre o volume total das migrações, contribuindo definitivamente para o fortalecimento e expansão dos seus fluxos (FAZITO, 2005). Dados do Censo de 1970 mostram que os fluxos de retorno representavam 11% da migração no Brasil, ao passo que, entre 1980-1991, este percentual aumentou para 24,5% (BAENINGER, 2000). Os dados censitários de 2000 revelam que no Brasil, 1.129.694 indivíduos decidiram regressar aos seus estados de origem entre os anos de 1995-2000. Número considerável, já que representa 21,7% do total de pessoas que fizeram algum deslocamento nesse período. Quando se observa os dados do Censo de 2010, nota-se uma pequena queda no número total e relativo de migrantes retornados no país. Entre os anos 2005-2010, o número de migrantes retornados era de 999.662 indivíduos ou 21,5% do total de deslocamentos no país (SIQUEIRA, MAGALHÃES E SILVEIRA NETO, 2008; BAPTISTA, CAMPOS E RIGOTTI, 2012). Neste contexto, o Nordeste vem se destacando como a região de maior proporção de retornados interestaduais. No período 1995-2000, 43,5% do total de imigrantes do Nordeste foram de retorno, com destaque para os Estados da Paraíba (49,2%), Ceará (48,2%) e Piauí (46,2%). Por outro lado, no quinquênio 2005-2010 houve uma redução na proporção relativa dos migrantes retornados para o Nordeste (37,5%), com destaque para o Ceará (43,6%), seguidos da Paraíba (40,8%) e Piauí (38,9%) (BAPTISTA, CAMPOS E RIGOTTI, 2012). Essa ligeira queda entre os quinquênios 1995-2000 e 2005-2010 pode ser explicada pela redução geral das migrações observadas entre os censos 2000 e 2010. Apesar disso, estes dados mostram a importância da migração de retorno dentro do fenômeno migratório. Diante à relevância do tema, o presente trabalho tem como objetivo analisar o volume e os fluxos migratórios de retorno de data fixa nos quinquênios 1995-2000 e 2005-2010 para os municípios do Nordeste, e com origem nos municípios fora da Região Nordeste, que por sua vez representam grande parte do volume da migração de retorno, observado nas últimas décadas (BRITO, RIGOTTI E CAMPOS, 2012). Pretende-se, portanto, aprofundar os conhecimentos acerca do padrão da distribuição espacial (ou dos fluxos) dessa parcela de migrantes; contribuindo, assim, para uma maior compreensão desse importante eixo de migração, fundamental na dinâmica migratória brasileira. Além da migração de retorno, serão considerados a naturalidade do retornado bem como o tamanho do município de destino. Nesse contexto, o estudo pretende responder as seguintes perguntas: no nível municipal, quais os principais eixos de migração? Há uma concentração do migrante de retorno ao próprio município de nascimento? Ou a maioria dos migrantes retornados tem como destino outros municípios da Unidade da Federação de nascimento? As cidades de destino da migração de retorno seriam de pequeno, médio ou de grande porte? O trabalho está dividido em quatro seções. A segunda seção discorre sobre a metodologia e a base de dados. Na terceira seção são apresentados e discutidos os resultados, enquanto a última seção são as conclusões.

Artigo Completo:

Palavras-chave: Migração de Retorno, Migração de Retorno inter-regional, Fluxos migratórios, Fluxos migratórios inter-regionais, Naturalidade da Migração, Hierarquia de Cidades,

Palavras-chave:

DOI: 10.5151/xgtmigracao-10

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  • [12] SIQUEIRA, L.B.O; MAGALHÃES, A.M e SILVEIRA NETO, R. M. Uma análise de migração de Retorno no Brasil: Perfil do migrante de Retorno, a Partir do Censo de 2000. In: XI Encontro Regional de Economia, 2006, Fortaleza. Anais...2006.
Como citar:

Campos, Jarvis; Reis, Cristiano S. dos; Sathler, Douglas; "Caracterização espacial da migração de retorno ao Nordeste: uma análise dos fluxos migratórios intermunicipais nos quinquênios 1995-2000 e 2005-2010", p. 157-177 . In: . São Paulo: Blucher, 2017.
ISSN 2359-2990, DOI 10.5151/xgtmigracao-10

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