Artigo:

Este trabalho aborda o uso de produções jornalísticas, sejam elas artigos, entrevistas ou reportagens, como fontes documentais para a pesquisa historiográfica em design, analisando seus limites e possibilidades. A proposta, como parte de uma pesquisa de mestrado em andamento, é compreender as fontes como indícios que nos dão pistas para construir uma análise do contexto histórico, recorrendo ao “paradigma indiciário” (GINZBURG, 1989). Pretende-se também analisar esses documentos a partir dos conceitos de documento e monumento propostos por LE GOFF (1990), compreendendo-os como elementos das disputas de sentido sobre o design e a prática dos designers. Debates publicados na década de 1970 que abordam a questão da cópia no design brasileiro foram selecionados do jornal carioca “O Globo”. A seleção do material ocorreu por pesquisa de termo exato no acervo do jornal disponibilizado online, sendo a expressão “desenho industrial” a base para a pesquisa. Em seguida, selecionou-se os documentos que discutem a problemática da “cópia” no design no Brasil. Como resultados iniciais, identificou-se que, nesse período, a discussão sobre a consolidação da identidade brasileira por meio dos produtos industriais estava em pauta na imprensa. Nesse sentido, a cópia dos produtos internacionais seria uma barreira para a construção dessa identidade. Contudo, diferentes significados eram dados para o termo “cópia” no período sob análise, já que seu uso era associado a contextos diversos, como o industrial e também o educacional. Esse uso polissêmico resultou na interpretação, difundida pelos profissionais do desenho industrial e endossada pela imprensa, de que a institucionalização do design no Brasil, ocorrida nos anos 1950 e 60, foi uma cópia do “modelo ulminiano”. O trabalho, portanto, traz à discussão uma primeira proposição analítica sobre a construção, no âmbito do debate público, de algo que poderia ser entendido como um "mito da cópia" no contexto do design brasileiro.