Article:

Este estudo faz parte da pesquisa de doutorado que visa definir princípios e diretrizes de design de jogos eletrônicos que adotam técnicas de biofeedback para auxiliar no tratamento de pacientes. O presente estudo aborda a utilização do grupo focal (GF) como instrumento para coleta de dados sobre as características das sessões de fisioterapia em pacientes crianças com pé torto congênito (PTC) do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IOT-HCFMUSP), a fim de obter parâmetros para o desenvolvimento dos jogos utilizados nos experimentos da pesquisa. Segundo Flick, em um GF, estimulam-se discussões sobre a questão do estudo em um grupo de indivíduos selecionados e a dinâmica tem o potencial de gerar declarações mais ricas do que as obtidas em uma entrevista individual (2009, p.119). Quando as informações a serem coletadas envolvem a criação de produto, as interações entre membros e com um dispositivo similar são proveitosas para compreensão de modos de uso, sequência de tarefas e comportamento e atitudes diante das atividades a serem realizadas (Milton e Rodgers, 2013, p.70-71). Foram realizadas duas sessões com GF na ala de fisioterapia do IOT-HCFMUSP, em 06/10/2022 e 09/02/2023, com duração aproximada de 30 minutos, envolvendo diferentes composições da equipe multidisciplinar que integra o grupo de tratamento de pacientes com PTC do IOT-HCFMUSP, composta por uma médica, duas fisioterapeutas, dois estagiários de fisioterapia e duas psicólogas. Os GF foram mediados pelo pesquisador, que abriu as sessões explicando seus objetivos, conduziu as discussões estimulando o debate e a participação de todos os membros e garantiu a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Na primeira sessão, buscou-se estimular a interação dos participantes com o equipamento de biofeedback empregando-se o Protocolo de Pensar em Voz Alta, em que os participantes do GF são convidados a desempenhar uma atividade específica, descrevem o que estão fazendo e narram as experiências à medida que usam o protótipo (Milton e Rodgers, 2013, p.71). Na segunda sessão foram apresentados os resultados dos ajustes feitos à interface e discutidos em maior profundidade elementos pertinentes à mecânica de jogo e adequação do tema escolhido às limitações dos pacientes. Com base no tipo de exercício a ser executado pelo paciente, os GF favoreceram: a) a obtenção e ajuste de parâmetros de configuração das sessões de fisioterapia, tais como o número de repetições, tempo de descanso e nível de dificuldade; b) o detalhamento das etapas que antecedem a realização dos exercícios - posicionamento de eletrodos no corpo, calibragem do equipamento e apresentação de regras do jogo; c) a adequação de mecânicas de jogo propostas ao tipo de exercício executado pelos pacientes e d) a identificação de que os temas de jogos deveriam propor ações a serem executadas pelos personagens que tenham relação próxima com os grupos musculares recrutados na execução dos exercícios, limitando as possibilidades a ações que envolvam o uso das pernas.