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Hacking/Making Feminista: mulheres, resíduos têxteis e os comuns, em coletivos da cidade de São Paulo

Feminist Hacking/Making: women, textile Waste and the commons in collectives in the city of São Paulo

HIDAKA, Lucilene Mizue ; BARBOSA, Lara Leite ;

Artigo:

"Muito se tem discutido sobre a relação entre capitalismo e o patriarcado. Conforme Werholf (2021, p. 438), estudos sugerem que “o capitalismo não é simplesmente uma economia apoiada por uma cultura patriarcal, e sim o estágio mais recente do próprio patriarcado”. O patriarcado colonial como projeto político hegemônico, hierarquizou pessoas por meio do gênero, raças e classe; invadiu territórios, se apropriou dos meios de produção, escravizou, e segue empobrecendo, destruindo, de forma sistemática, vidas e o planeta. Nesse sentido, é necessário olharmos para o problema das diversas opressões sobre as mulheres e as formas de resistência, utilizando-se da interseccionalidade do gênero, raça e classe como lentes de análise. Neste trabalho, temos o conceito de cuidado como aspecto social central, onde serão pesquisados coletivos de mulheres, que cuidam não só de pessoas, mas também do meio ambiente, na medida em que reaproveitam e geram renda, a partir da reutilização de resíduos têxteis. Pesquisaremos como as mulheres lidam com o tempo fragmentado junto ao trabalho de reprodução social, e as possíveis práticas dos comuns, em suas habitações ou comunidades. Com o sistema capitalista, os espaços, que antes eram comuns, passaram a ter interesses privados e individuais, tornando a produção e o consumo distantes (Mies; Bennholdt-Thomsen, 2001). Segundo Federici (2019, p. 405), a reconstrução sob uma perspectiva feminista é capaz de superar este distanciamento ou estado de esquecimento, apontado por Mies e Bennholdt-Thomsen (2001). Ou seja, da relação de produção, consumo e descarte, e que o “processo de tornar comum deve ser o de produzirmos a nós mesmos como sujeitos comuns”, enfatizando que “não há comuns sem comunidade e não há comunidade sem reciprocidade” (Mies e Bennholdt-Thomsen, 2001, p. 1018). O estudo se utiliza do Manifesto Hacker, de Wark (2022) e do conceito de “Hacking/Making Feminista” do coletivo SSL Nabot (2016), que se contrapõe ao hacktivismo dominante, da figura hacker masculina. Conforme as autoras: O hacking/making reafirma e altera a masculinidade hegemônica. O hacking/making feminista alavanca a criatividade e a brincadeira do hacking e o amarra a objetivos maiores de inclusão por meio da intimidade e das lutas coletivas. O hacking/making feminista continua com interrogações sobre estruturas de poder de gênero, no entanto, também busca maneiras de subverter essas mesmas estruturas por meio dessa recalibração da competição para a inclusão, da autonomia individual para a intimidade (SSL Nabot, 2016, n.p., tradução nossa). Segundo SSL Nagbot (2016, n.p.), o hacking/making realizado pelas mulheres é intrínseco ao “fazer”, não somente à “criação de novos artefatos”, mas principalmente como “método para abrir novas linhas de investigação de gênero por meio da prática”. Por fim, trata-se de uma pesquisa qualitativa, com fontes bibliográficas e documentais, pesquisa-ação e entrevistas semiestruturadas. Como referencial teórico, partiremos de autoras e autores que analisam criticamente o patriarcado, capitalismo, colonialismo, hacktivismo, assim como conceitos que trabalham com o design, justiça social e ambiental. "

Artigo:

"There has been much discussion about the relationship between capitalism and patriarchy. According to Werholf (2021, p. 438), studies suggest that “capitalism is not simply an economy supported by a patriarchal culture, but rather the most recent stage of patriarchy itself”. Colonial patriarchy as a hegemonic political project hierarchized people through gender, race and class; it invaded territories, appropriated the means of production, enslaved, and continues to impoverish, systematically destroying lives and the planet. In this sense, it is necessary to look at the problem of the various oppressions against women and the forms of resistance, using the intersectionality of gender, race and class as lenses of analysis. In this work, we have the concept of care as a central social aspect, where collectives of women will be researched, who care not only for people, but also for the environment, as they reuse and generate income, from the reuse of textile waste. We will research how women deal with fragmented time in the work of social reproduction, and the possible practices of the commons, in their homes or communities. With the capitalist system, spaces that were once common began to have private and individual interests, making production and consumption distant (Mies; Bennholdt-Thomsen, 2001). According to Federici (2019, p. 405), reconstruction from a feminist perspective is capable of overcoming this distancing or state of forgetfulness, pointed out by Mies and Bennholdt-Thomsen (2001). In other words, the relationship of production, consumption and disposal, and that the “process of making common must be that of producing ourselves as common subjects”, emphasizing that “there is no commons without community and there is no community without reciprocity” (Mies and Bennholdt-Thomsen, 2001, p. 1018). The study uses Wark’s “A Hacker Manifesto” (2022) and the concept of “Feminist Hacking/Making” by the SSL Nabot collective (2016), which opposes the dominant hacktivism of the male hacker figure. According to the authors: Hacking/making both reaffirms and alters hegemonic masculinity. Feminist hacking/making leverages the creativity and playfulness of hacking and tethers it to larger goals of inclusion through intimacy and collective struggles. Feminist hacking/making continues with interrogations of gender structures of power, however, also seeks out ways to subvert these very structures through this recalibration from competition to inclusion, from individual autonomy to intimacy (SSL Nabot, 2016, n.p., our translation). According to SSL Nagbot (2016, n.p.), hacking/making carried out by women is intrinsic to “making”, not only to the “creation of new artifacts”, but mainly as a “method to open new lines of gendered inquiry through practice”. Finally, this is qualitative research, with bibliographic and documentary sources, action research and semi-structured interviews. As a theoretical framework, we will start from authors who critically analyze patriarchy, capitalism, colonialism, hacktivism, as well as concepts that works with design, social and environmental justice."

Palavras-chave: hacktivismo; interseccionalidade; cuidado; práticas dos comuns; trabalho,

Palavras-chave: hacktivism; intersectionality; care; commons practices; labor,

DOI: 10.5151/8spdesign-023

Referências bibliográficas
  • [1] "FEDERICI, Silvia. O feminismo e a política dos comuns. In: Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Org. Heloisa Buarque de Hollanda. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. p. 393–410.
  • [2] MIES, Maria; Bennholdt-Thomsen, Veronika. Defending, Reclaiming and Reinventing the Commons. Canadian Journal of Development Studies / Revue canadienne d’études du développement, [s. l.], v. 22, n. 4, p. 997–1023, 2001.
  • [3] SSL NAGBOT. Hacking/Making: Exploring new gender horizons of possibility. Peer Production , [s. l.], n. 8, 2016.
  • [4] WARK, Mckenzie. Um manifesto Hacker. São Paulo: Funilaria, 2022.
  • [5] WERHOLF, Claudia von. Novos matriarcados. In: KOTHARI, Ashish et al. (org.). Pluriverso: um dicionário do pós-desenvolvimento. São Paulo: Elefante, 2021. p. 436–439. "
Como citar:

HIDAKA, Lucilene Mizue; BARBOSA, Lara Leite; "Hacking/Making Feminista: mulheres, resíduos têxteis e os comuns, em coletivos da cidade de São Paulo", p. 82-85 . In: Anais do 8º SPDesign - Seminário de Pesquisa do PPG Design FAU USP. São Paulo: Blucher, 2024.
ISSN 2318-6968, DOI 10.5151/8spdesign-023

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