Artigo:

A história dos povos diaspóricos é marcada pelo esquecimento, pelo desconhecimento, e principalmente por narrativas contadas com vieses ideológicos. Entender como sobrevivem essas histórias e reconhecer a primazia da imaginação e do ativismo na criação de novas narrativas de produtos culturais são atividades tão cruciais no trabalho de rever a história negra, quanto repensar o que é mostrado e apreendido sobre o papel e contribuição negra nestas narrativas. A partir da criação e montagem da exposição intitulada Ocupação Sueli Carneiro, o ensaio reflete sobre suas as estratégias projetuais e de criação sob a guiza de filosofias e cosmovisões africanas, da filosofia Bakongo e de conceitos do candomblé. Concebida em 2021, de maneira multidisciplinar pelo Instituto Itaú Cultural, a exposição serve de objeto para abordagens afrocentradas e decoloniais do processo criativo e de design expositivo. A metodologia se desenvolve através da análise da conceitual e projetual da exposição observando estratégias que contribuem para uma imaginação antirracista. A abordagem tem base interdisciplinar e se ancora no papel da cultura e na resistência e reparação historiográficas brasileiras para analisar ferramentas de criação e projeto artístico visual usados em produtos culturais que representam a chamada (Re)escrita histórica negra, ou ainda, Imaginação afrodiaspórica, e embasamento teórico que abarca o conceito do Atlântico Negro e seu papel na criação narrativa de novas histórias construídas sobre princípios de igualdade e justiça racial através de produtos culturais de massa. Este recorte faz parte da pesquisa doutoral que analisa ainda as exposições Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para brasileiros (2021) e Memórias do Futuro: Cidadania negra, Antirracismo e resistência; e os filmes Racionais Mcs – Das ruas de São Paulo para o Mundo (2022) e Um ano inesquecível – Outono (2021-23), cuja linhagem política e histórica pode ser rastreada desde a escravidão e o colonialismo.