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O Pensamento projetual de Lina Bo Bardi em “Bahia no Ibirapuera” e a influência da Cultura Afro-Brasileira sob uma Perspectiva Gramsciniana

Lina Bo Bardi's Design Thinking in "Bahia no Ibirapuera" and the Influence of Afro-Brazilian Culture from a Gramscian Perspective

DÓRIA, Bruna Villas-Bôas Lins ; SANTOS, Maria Cecilia Loschiavo dos ;

Artigo:

"Este artigo propõe uma reflexão sobre o pensamento projetual de Lina Bo Bardi na exposição Bahia no Ibirapuera (1959), evidenciando sua abordagem gramsciniana ao explorar a cultura popular, em especial os signos e símbolos do Candomblé, que influenciaram substancialmente seu trabalho após o período em que residiu em Salvador, Bahia. A hipótese central deste estudo sustenta que Lina Bo Bardi, ao propor um diálogo entre projeto expográfico e elementos religiosos de matriz africana, elaborou uma nova forma de conceber o design, desafiando as convenções do modernismo e as hierarquias culturais dominantes (GRAMSCI, 2001). Isso ampliou as possibilidades de se pensar a cultura local no campo do design no Brasil, de forma pioneira e inclusiva. A experiencia de Lina Bo entre Salvador e São Paulo durante os anos de 1959 e 1964, foi determinante para o amadurecimento de sua visão projetual. Durante esse período, Lina Bo, imergiu na cultura popular nordestina e nas tradições religiosas afro-brasileiras. Em “Bahia no Ibirapuera”, apresentada na 5ª Bienal de São Paulo, observa-se uma síntese dessa vivência. Influenciada pelas ideias de Antônio Gramsci, que defendia a valorização das culturas subalternas frequentemente marginalizadas pelas elites, Lina Bo reconheceu e incorporou a riqueza da cultura afro-brasileira presente em Salvador, e hoje considerada o epicentro da preservação da cultura afro-diapórica (WALKER, 2004). Deste modo, Lina Bo, como outros intelectuais do Avant Gard (RISÉRIO, 1995), integrou elementos materiais e imateriais, como a cosmologia do Candomblé, em boa parte de suas concepções projetuais após este período. A exposição, pensada por Lina Bo Bardi e pelo professor da Escola de Teatro da Universidade da Bahia, Martim Gonçalves, apresentou ao Brasil uma nova perspectiva sobre cultura popular, até então desconhecida pelas elites. Lina Bo adotou materiais simples como madeira, barro, fibras naturais, papel e materiais de reuso, rejeitando o fetichismo comum que transformava objetos da cultura popular em souvenirs. Ao cobrir o chão do pavilhão da Bienal com folhas de eucalipto cheiroso, Lina Bo criou uma experiência sensorial que remetia aos rituais dos terreiros de candomblé de Salvador, propondo uma estética do sagrado afro-brasileiro. Por meio desta abordagem combativa e militante, Lina visava uma sociedade moderna que equilibrava o material e o espiritual (PEREIRA, 2014). Ao apresentar Orixás em hierarquia ritualística e outros elementos afro-indígenas, como carrancas e ferramentas de culto, Lina Bo desafiou a hegemonia modernista eurocêntrica, integrando tradições locais de maneira inovadora. Criou uma linguagem estética que celebrava a autenticidade das culturas populares nordestinas, rompendo com as convenções estabelecidas. Essa abordagem evidenciou a força da cultura popular na construção de uma nova hegemonia cultural, em sintonia com o pensamento gramisciniano, ao resistir às imposições das elites que marginalizaram durante séculos qualquer manifestação da cultura popular, sobretudo de origem negra. Assim, Lina Bo buscou redefinir a relação entre modernidade e tradição, mostrando como o design pode ser uma plataforma para a valorização da cultura popular, tanto em sua dimensão material quanto imaterial. O objetivo deste artigo é demonstrar como a teoria de Antônio Gramsci, especialmente no que tange à cultura e hegemonia, influenciou o trabalho de Lina Bo Bardi na exposição “Bahia no Ibirapuera”. A metodologia inclui uma revisão de literatura (GRAMSCI, 2001; WALKER, 2004; PEREIRA, 2014; RIZÉRIO, 1995) e uma pesquisa documental no acervo do Instituto Bardi, que contém registros originais do projeto da exposição e demais anotações pertinentes a construção do raciocínio de Lina Bo e sua relação com as publicações de Gramsci. Espera-se, por meio deste artigo, evidenciar que o pensamento projetual de Lina Bo Bardi, ao integrar elementos da cultura afro-brasileira, foi fundamental para a criação de uma abordagem expográfica única, rompendo com convenções modernistas e valorizando a espiritualidade e a autenticidade do fazer popular, conforme preconizado por Gramsci. "

Artigo:

"This paper proposes a reflection on Lina Bo Bardi's design thinking in the Bahia no Ibirapuera exhibition (1959), highlighting her Gramscian approach by exploring popular culture, especially the symbols and signs of Candomblé, which substantially influenced her work after the period she lived in Salvador, Bahia, Brazil. The central hypothesis of this study asserts that Lina Bo Bardi, by proposing a dialogue between exhibition design and religious elements of African origin, developed a new way of conceiving design, challenging the conventions of modernism and the dominant cultural hierarchies (GRAMSCI, 2001). This broadened the possibilities for thinking about local culture in Brazil's design field, in a pioneering and inclusive manner. Lina Bo Bardi's experience between Salvador and São Paulo from 1959 to 1964 was crucial for the maturation of her design vision. During this period, she immersed herself in the northeastern popular culture and Afro-Brazilian religious traditions. In Bahia no Ibirapuera, presented at the 5th São Paulo Biennial, one can observe a synthesis of this experience. Influenced by Antonio Gramsci’s ideas, which advocated for the valorization of subaltern cultures often marginalized by the elites, Lina Bo recognized and incorporated the richness of Afro-Brazilian culture present in Salvador, which is today considered the epicenter of Afro-diasporic culture preservation (WALKER, 2004). Thus, like other intellectuals of the Avant-Garde (RISÉRIO, 1995), Lina Bo integrated material and immaterial elements, such as the cosmology of Candomblé, into much of her design concepts after this period. The exhibition, designed by Lina Bo Bardi and the professor from the School of Theater at the University of Bahia, Martim Gonçalves, presented Brazil with a new perspective on popular culture, previously unknown to the elites. Lina Bo used simple materials such as wood, clay, natural fibers, paper, and reused materials, rejecting the common fetishization that often-turned objects from popular culture into souvenirs. By covering the Biennial pavilion floor with fragrant eucalyptus leaves, Lina Bo created a sensory experience reminiscent of Candomblé rituals in Salvador's terreiros, proposing an Afro-Brazilian sacred aesthetic. Through this combative and militant approach, Lina sought to create a modern society that balanced the material with the spiritual (PEREIRA, 2014). By presenting Orixás in a ritualistic hierarchy and other Afro-Indigenous elements, such as carrancas and sacred tools, Lina Bo challenged the Eurocentric modernist hegemony, innovatively integrating local traditions. She created an aesthetic language that celebrated the authenticity of Northeastern popular cultures, breaking with established conventions. This approach highlighted the strength of popular culture in constructing a new cultural hegemony, in line with Gramscian thought, by resisting the impositions of the elites who had marginalized any manifestations of popular culture, especially of Black origin, for centuries. Thus, Lina Bo sought to redefine the relationship between modernity and tradition, showing how design can be a platform for the appreciation of popular culture, both in its material and immaterial dimensions. This article aims to demonstrate how Antonio Gramsci’s theory, particularly regarding culture and hegemony, influenced Lina Bo Bardi's work in the Bahia no Ibirapuera exhibition. The methodology includes a literature review (GRAMSCI, 2001; WALKER, 2004; PEREIRA, 2014; RISÉRIO, 1995) and documentary research at the Bardi Institute's archive, which contains original records of the exhibition project and other notes relevant to Lina Bo's thought process and its relation to Gramsci's publications. This article aims to show that Lina Bo Bardi's design thinking, by integrating elements of Afro-Brazilian culture, was fundamental in creating a unique exhibition approach, breaking with modernist conventions and valuing the spirituality and authenticity of popular craftsmanship, as advocated by Gramsci."

Palavras-chave: Lina Bo Bardi: 1; Design 2; Cultura popular 3; Expografia 4; Gramsci 5,

Palavras-chave: Lina Bo Bardi: 1; Design 2; Popular Culture 3; Exhibition Design 4; Gramsci 5,

DOI: 10.5151/8spdesign-016

Referências bibliográficas
  • [1] "GRAMSCI, Antônio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 200
  • [2] INSTITUTO LINA BO E P.M. BARDI. Acervo documental: arquivos pessoais de Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 2023.
  • [3] PEREIRA, Godofredo. Feitiço, Arquitectura e Território. Revista Lugar Comum, v. 1, n. 41, p. 145-152, 2014. ISSN 1415-8604.
  • [4] RISÉRIO, Antônio. Avant Gard na Bahia. São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 1995.
  • [5] WALKER, Sheila S. Cultura Negra no Novo Mundo: Antropologia da Diáspora Africana nas Américas. Belo Horizonte: UFMG, 2004."
Como citar:

DÓRIA, Bruna Villas-Bôas Lins; SANTOS, Maria Cecilia Loschiavo dos; "O Pensamento projetual de Lina Bo Bardi em “Bahia no Ibirapuera” e a influência da Cultura Afro-Brasileira sob uma Perspectiva Gramsciniana", p. 57-60 . In: Anais do 8º SPDesign - Seminário de Pesquisa do PPG Design FAU USP. São Paulo: Blucher, 2024.
ISSN 2318-6968, DOI 10.5151/8spdesign-016

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