Resumo:

Situadas entre a demanda para que sejam duráveis, do ponto de vista de sua materialidade, e rápido descarte, devido ao seu caráter programado de uso único, embalagens de consumo realçam uma lógica produtiva centrada na efemeridade. Nota-se, todavia, casos de interferências no fluxo aquisição-uso-eliminação de algumas embalagens, que não são imediatamente rejeitadas após consumo do produto que acondicionam e adquirem sobrevida por intermédio de seus usuários, como o reúso no âmbito doméstico, em que são reaproveitadas, seja para a mesma função inicial, como refil do produto que preservavam, ou outra distinta, geralmente imprevista no desenvolvimento de seu projeto. Distingue-se o objeto de investigação do reúso em contexto industrial, caso de embalagens retornáveis, e da reciclagem, que visa conversão da matéria-prima para outros fins. Tendo em vista as dezenas de embalagens com as quais indivíduos entram em contato todos os dias, questiona-se como se dá a decisão de mantê-las ou rejeitá-las, e que aspectos dessa seleção contribuem para postergar o descarte. Isso posto, este estudo almeja depreender motivações, em termos práticos, estéticos e simbólicos, para a reutilização de embalagens em residências, segundo percepções de usuários selecionados, tomando também por base perspectivas de profissionais atuantes no setor e teóricos, quanto a possibilidades e dificuldades de projetar este tipo de artefato para reúso. Para tanto, propõe-se entrevistas em profundidade semiestruturadas e revisão de literatura especializada. Ao fim da pesquisa, intenta-se sistematizar eventuais subsídios conceituais e projetuais que orientem o planejamento de embalagens que potencialmente favoreçam novos modos de uso das mesmas por seus usuários.