Resumo:

Apesar da experiência do cooperativismo ser relativamente recente no Brasil, diversos trabalhos têm apontado sua importância para a melhoria da renda e da qualidade de vida de comunidades e grupos distintos em face de um cenário econômico e social marcado pela desigualdade e, sobretudo, pelas desigualdades de gênero. Embora as propostas de cunho coletivista e solidário sejam ainda estranhas ao modo de produção capitalista, elas produzem não só bens, mas principalmente, subjetividades. Enfocando uma cooperativa de costureiras na cidade de Catalão, GO e o seu respectivo procedimento de incubação através da INESSOL – Incubadora de empreendimentos sócio solidários (vinculada a Universidade Federal de Goiás), neste trabalho serão analisadas as construções narrativas e significados em jogo durante as reuniões entre os docentes da incubadora e as cooperadas _ no processo de diagnóstico das necessidades e na busca de soluções para as questões e dilemas colocados. Partimos da premissa de que para além de um jogo de buscas e desejos dos sujeitos envolvidos, estes encontros dialógicos tem se constituído como um espaço de constituição da experiência, nos termos trabalhados por Joan Scott (1994), para quem a experiência deve ser compreendida como categoria histórica que se constrói duplamente, não só através dos relatos individuais dos sujeitos, mas também através dos mecanismos hegemônicos e repressores em que a diferença e a subalternidade são construídas; a saber, na relação entre os níveis estrutural e “psicológico”, coletivo e particular. Assim, estes encontros são analisados como espaços onde os sujeitos se constituem narrativamente, construindo e interpretando suas experiências, identidades e selves através de uma “complexa negociação de constituição do si mesmo” (Crapanzano, 1984), mas principalmente, como um espaço onde estes repertórios de narrativas e memórias são integrados em diversos níveis estruturais, permitindo a emergência de conceitos e categorias que atuam no direcionamento das ações e principalmente, de uma nova forma de empoderamento feminino.